Raça, Ciência e Nação: ideais de pureza, mistura e degeneração

Simbiótica

Endereço:
Universidade Federal do Espírito Santo - Av. Fernando Ferrari, 514, IC II, Sl. 21 - Goiabeiras
Vitória / ES
29075-910
Site: http://periodicos.ufes.br/simbiotica/index
Telefone: (27) 4009-7619
ISSN: 2316-1620
Editor Chefe: Claudio Marcio Coelho
Início Publicação: 31/05/2012
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Antropologia, Área de Estudo: Ciência política, Área de Estudo: História, Área de Estudo: Sociologia, Área de Estudo: Multidisciplinar

Raça, Ciência e Nação: ideais de pureza, mistura e degeneração

Ano: 2022 | Volume: 9 | Número: 2
Autores: Carolina de Oliveira e Silva Cyrino, Pâmela Marconatto Marques, José Carlos Gomes dos Anjos
Autor Correspondente: Carolina de Oliveira e Silva Cyrino | [email protected]

Palavras-chave: raça, ciência, nação

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Assim que detalhes da Revolução Haitiana passaram a circular na França do final do século XVIII, mesmo as elites ditas progressistas, compostas em geral por abolicionistas brancos, começaram a voltar atrás em seu discurso antirracista e antiescravagista. Nem mesmo os abolicionistas teriam comemorado o levante e alguns, inclusive, tomaram-no como prova de que haviam compreendido mal a natureza dos negros e, consequentemente, passaram a reavaliá-los. A partir desse momento, passava a não ser de bom tom proclamar a nobreza da raça negra e a barbárie da escravidão nas rodas de intelectuais, e mesmo nos circuitos artísticos considerados vanguardistas em Paris. Refletindo esse cenário, entre 1853 e 1855, Arthur de Gobineau publicou Essai sur l’inégalité des races humaines, onde sustentava a derrocada das raças puras e, portanto, a iminência da degeneração, operada pela mistura racial. Estavam lançadas aí as bases do racismo científico, contestado pelo intelectual haitiano Anténor Firmin naquele mesmo período, na obra De l'Égalité des races humaines, lançada em Paris em 1885 e ainda hoje muito pouco conhecida. No Brasil, o racismo científico germinou em um contexto semelhante aquele que testemunhou sua emergência na França: o pós-abolição da escravatura, embora com direcionamentos distintos. Aqui, o contexto era o de um país recém proclamado independente, cuja viabilidade frente às elites coloniais deveria ser negociada tendo em vista uma maioria negra, então liberta. Não bastava, nesse contexto, lamentar a degeneração da raça, como Gobineau, era preciso reabilitá-la, salvá-la do ocaso que anunciava. Com esse afã, uma série de tecnologias de construção da divisão racial sobre outras bases passa a ser mobilizada pelas elites em território nacional, tramando medicina, literatura, artes, forças armadas, diplomacia, direito, antropologia e políticas públicas. Como no pós-revolução Haitiana, é a existência de uma maioria negra liberta em territórios até então colonizados que passa a assombram as elites brancas e gerar respostas singulares voltadas à conservação de privilégios. Tendo em mente as pistas levantadas, este dossiê Raça, Ciência e Nação: ideais de pureza, mistura e degeneração, reuniu trabalhos que escavam esses acontecimentos/processos que possam ser identificados como cúmplices dessas respostas, desde o pós-abolição. Que atores estiveram envolvidos e de que modos singulares produziram consequências? Que resistências ou dissidências podem ser rastreadas?



Resumo Inglês:

Assim que detalhes da Revolução Haitiana passaram a circular na França do final do século XVIII, mesmo as elites ditas progressistas, compostas em geral por abolicionistas brancos, começaram a voltar atrás em seu discurso antirracista e antiescravagista. Nem mesmo os abolicionistas teriam comemorado o levante e alguns, inclusive, tomaram-no como prova de que haviam compreendido mal a natureza dos negros e, consequentemente, passaram a reavaliá-los. A partir desse momento, passava a não ser de bom tom proclamar a nobreza da raça negra e a barbárie da escravidão nas rodas de intelectuais, e mesmo nos circuitos artísticos considerados vanguardistas em Paris. Refletindo esse cenário, entre 1853 e 1855, Arthur de Gobineau publicou Essai sur l’inégalité des races humaines, onde sustentava a derrocada das raças puras e, portanto, a iminência da degeneração, operada pela mistura racial. Estavam lançadas aí as bases do racismo científico, contestado pelo intelectual haitiano Anténor Firmin naquele mesmo período, na obra De l'Égalité des races humaines, lançada em Paris em 1885 e ainda hoje muito pouco conhecida. No Brasil, o racismo científico germinou em um contexto semelhante aquele que testemunhou sua emergência na França: o pós-abolição da escravatura, embora com direcionamentos distintos. Aqui, o contexto era o de um país recém proclamado independente, cuja viabilidade frente às elites coloniais deveria ser negociada tendo em vista uma maioria negra, então liberta. Não bastava, nesse contexto, lamentar a degeneração da raça, como Gobineau, era preciso reabilitá-la, salvá-la do ocaso que anunciava. Com esse afã, uma série de tecnologias de construção da divisão racial sobre outras bases passa a ser mobilizada pelas elites em território nacional, tramando medicina, literatura, artes, forças armadas, diplomacia, direito, antropologia e políticas públicas. Como no pós-revolução Haitiana, é a existência de uma maioria negra liberta em territórios até então colonizados que passa a assombram as elites brancas e gerar respostas singulares voltadas à conservação de privilégios. Tendo em mente as pistas levantadas, este dossiê Raça, Ciência e Nação: ideais de pureza, mistura e degeneração, reuniu trabalhos que escavam esses acontecimentos/processos que possam ser identificados como cúmplices dessas respostas, desde o pós-abolição. Que atores estiveram envolvidos e de que modos singulares produziram consequências? Que resistências ou dissidências podem ser rastreadas?



Resumo Espanhol:

Assim que detalhes da Revolução Haitiana passaram a circular na França do final do século XVIII, mesmo as elites ditas progressistas, compostas em geral por abolicionistas brancos, começaram a voltar atrás em seu discurso antirracista e antiescravagista. Nem mesmo os abolicionistas teriam comemorado o levante e alguns, inclusive, tomaram-no como prova de que haviam compreendido mal a natureza dos negros e, consequentemente, passaram a reavaliá-los. A partir desse momento, passava a não ser de bom tom proclamar a nobreza da raça negra e a barbárie da escravidão nas rodas de intelectuais, e mesmo nos circuitos artísticos considerados vanguardistas em Paris. Refletindo esse cenário, entre 1853 e 1855, Arthur de Gobineau publicou Essai sur l’inégalité des races humaines, onde sustentava a derrocada das raças puras e, portanto, a iminência da degeneração, operada pela mistura racial. Estavam lançadas aí as bases do racismo científico, contestado pelo intelectual haitiano Anténor Firmin naquele mesmo período, na obra De l'Égalité des races humaines, lançada em Paris em 1885 e ainda hoje muito pouco conhecida. No Brasil, o racismo científico germinou em um contexto semelhante aquele que testemunhou sua emergência na França: o pós-abolição da escravatura, embora com direcionamentos distintos. Aqui, o contexto era o de um país recém proclamado independente, cuja viabilidade frente às elites coloniais deveria ser negociada tendo em vista uma maioria negra, então liberta. Não bastava, nesse contexto, lamentar a degeneração da raça, como Gobineau, era preciso reabilitá-la, salvá-la do ocaso que anunciava. Com esse afã, uma série de tecnologias de construção da divisão racial sobre outras bases passa a ser mobilizada pelas elites em território nacional, tramando medicina, literatura, artes, forças armadas, diplomacia, direito, antropologia e políticas públicas. Como no pós-revolução Haitiana, é a existência de uma maioria negra liberta em territórios até então colonizados que passa a assombram as elites brancas e gerar respostas singulares voltadas à conservação de privilégios. Tendo em mente as pistas levantadas, este dossiê Raça, Ciência e Nação: ideais de pureza, mistura e degeneração, reuniu trabalhos que escavam esses acontecimentos/processos que possam ser identificados como cúmplices dessas respostas, desde o pós-abolição. Que atores estiveram envolvidos e de que modos singulares produziram consequências? Que resistências ou dissidências podem ser rastreadas?