A repressão aos protestos antiausteridade na Espanha, de 2011 a 2014, é um exemplo de como o desenvolvimento do neoliberalismo é amparado pelo sistema penal, na medida em que limita a resistência política voltada à imposição de relações de trabalho precárias e cortes sociais. As restrições impostas à resistência política são tanto materiais (consistindo na proibição a ações típicas do repertório de resistência dos movimentos sociais) quanto simbólicas (consistindo em transformar o sentido do que é legítimo na política, impondo novas definições legais e políticas). Este estudo de caso pretende ilustrar as imbricações entre mercado de trabalho, políticas sociais e a repressão aos protestos sociais, e elaborar, a partir da perspectiva de Wacquant, uma relação entre punição e outras instituições sociais. São nesses momentos de crise política e econômica que as interconexões institucionais parecem particularmente expostas, exigindo, sem dúvida, análises mais profundas.
The repression of anti-austerity protests in Spain from 2011 to 2014 constitutes an example of how neoliberal developments are facilitated by the penal system as it limits political resistances to the imposition of precarious working conditions and social cuts. The limits imposed on contentious politics are both material (consisting of banning acts that are prominent in social movement’s repertoire of contention, fining demonstrators, etc.) and symbolic (consisting of transforming the meaning of legitimate politics by imposing new legal and political definitions). This case study is used to illustrate the interconnection between labor markets, social policies and the repression of social protest, and to elaborate on Wacquant’s approach to the relationship between punishment and other social institutions. It is at such times of political and economic crisis when institutional interconnections seem particularly exposed, arguably enabling more profound analyses.