Nos interstícios da escolarização e da religiosidade: preconceito e intolerância religiosa em cursos de Educação de Jovens e Adultos

Ano: 2011 | Volume: 8 | Número: 10

Autores: Heli Sabino de Oliveira, Jerry Adriani da Silva

Palavras-chave: propostas educativas de eja, laicidade, diversidade religiosa, identidade e diferença cultural

Resumo Português:

O objetivo com este artigo é analisar as formas pelas quais escolas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) lidam com a diversidade religiosa, bem como os jovens pentecostais ressignificam certas práticas escolares. Para tanto, tomamos como base duas propostas educativas: uma que aborda O Dia da Consciência Negra, visando à promoção da igualdade étnico-racial, e outra que desenvolve uma atividade denominada Festival de Talentos, cuja finalidade é colocar em evidência saberes dos educandos nas áreas do artesanato, da dança, da música e de teatro. Embora possuam objetivos distintos, essas propostas têm em comum o fato de terem sido redefinidas por jovens e adultos, estudantes pentecostais. Enquanto na primeira esses jovens questionam crenças de religiosidades de matrizes africanas, classificando-as como manifestações demoníacas, na segunda, usam o espaço para divulgar suas mensagens por meio de músicas e de pregações religiosas. Tanto em uma situação quanto na outra, os educadores silenciam, por não saberem como tratar essa questão nos estabelecimentos educativos. Neste trabalho, indaga-se por que a religiosidade é uma temática invisibilizada no contexto escolar e procura-se compreender como jovens pentecostais interpretam certas práticas educativas. Para tanto, adotou-se a perspectiva antropológica de Geertz (1989), que compreende a religião como um poderoso sistema simbólico, e a perspectiva dos Estudos Culturais, que destaca a esfera cultural como campo de produção e de disputa por significados. Os dados empíricos constituíram-se de coletas por meio de observação participante e entrevistas. Apesar de evidenciar a dificuldade de se abordar a questão religiosa no espaço escolar, na pesquisa de campo destaca-se a necessidade de questionar as relações sociais de poder, que produzem, não raro, diferenças e intolerâncias nos estabelecimentos educacionais.

Resumo Inglês:

This paper aims to analyze how Young and Adult Education schools cope with religious diversity and how some Pentecostal youngsters re-signify some school practices. The analysis approaches two education proposals: one concerning Black Awareness Day, which aims at promoting ethnic-racial equality and cultural activities between Pentecostal students and others of African-rooted religion; and the other concerning the Talent Festival, aimed at acknowledging students’ performance in handicraft, dance, music, and theater. Despite their different objectives, both proposals were redefined by young and adult, Pentecostal students. While they have questioned African-rooted religious beliefs, classifying them as demoniac in the first proposal, they have taken the second as an opportunity to spread their word with music and religious preaching. In both situations, teachers remained silent because they did not know how to deal with the issue in education institutions. This paper questions why religiosity is taken as an invisible issue in the school context and attempts to understand how Pentecostal youngsters interpret some education practices. Geertz’s (1989) anthropologic perspective is adopted to understand religion as a powerful symbolic system, and the Cultural Studies perspective is used as a means to understand the cultural dimension as an area of meaning production and dispute. The empirical data were collected by means of participant observation and interviews. Despite the difficulty of approaching religion in the school space, field research points to the need of questioning the social power relations, which sometimes produce differences and intolerance in education institutions.

Resumo Francês:

L’objectif de l’article est d’analyser les formes selon lesquelles les écoles d’Éducation de Jeunes Adultes (EJA) ont affaire à la diversité religieuse; on examine aussi la façon dont les jeunes pentecôtistes ressignifient certaines pratiques scolaires. Pour entamer l’analyse on a considéré deux propositions éducatives: celle qui considère O dia da Consciência Negra (Jour de la Conscience Noire) dans le but de promouvoir l’égalité ethno-raciale et celle qui développe une activité appelée Festival de Talentos (Festival de Talents) dont la finalité est de mettre en évidence les connaissances des élèves dans les domaines de l’artisanat, de la danse, de la musique et du théâtre. Malgré leur divergence sur le plan des objectifs, ces propositions ont en commun le fait d’avoir été redéfinies par des jeunes adultes qui sont en outre des pentecôtistes. Alors que dans la première proposition les jeunes mettent en question les croyances religieuses d’origine africaine en les considérant comme des manifestations démoniaques, dans la seconde il s’agit plutôt de divulguer des messages religieux à travers la musique et les prédications. Dans les deux cas, les éducateurs ont beaucoup de difficulté à traiter les questions qui surgissent dans le cadre de l’établissement scolaire. Ainsi, on essaie de comprendre pourquoi la religiosité est difficilement traitable dans le contexte scolaire et comment les jeunes pentecôtistes interprètent certaines pratiques éducatives. C’est pourquoi on adopte ici la perspective anthropologique de Geertz (1989), pour qui la religion est un puissant système symbolique, et aussi la perspective des Études Culturelles, qui voit la sphère culturelle comme un champ de production et des disputes autour des signifiés. Les données empiriques sont constituées par des observations et des entretiens. La recherche de terrain confirme le besoin de mettre en question les relations sociales de pouvoir qui produisent souvent des différences et des intolérances à l’intérieur des établissements scolaires.