Tendo como foco os direitos sexuais e reprodutivos, o artigo discute, a partir de vivências de boycetas e de uma lente transfeminista, as especificidades que a temática assume para boycetas, homens trans e não-bináries. Aqui, o objetivo principal é compreender, por meio de relatos autoetnográficos, quais as implicações que corpos transmasculinos e não-binários trazem aos debates sobre direitos sexuais e reprodutivos, considerando que essas questões são pensadas fundamentalmente para corpos de mulheres cisgêneras. Especialmente, pretende-se abordar algumas barreiras de acesso a serviços ginecológicos e a informações e métodos de prevenção às ISTs. Conclui-se que há, de modo geral, uma defasagem no modo como esses direitos são promovidos quando observadas as necessidades específicas de pessoas transmasculinas e não-binárias, o que é um produto da invisibilização desses corpos na própria forma como são discutidas e elaboradas as práticas de saúde da medicina ocidental moderna. Nesse sentido, é de extrema relevância que existam mais pesquisas sobre o tema, sobretudo a partir de um olhar transfeminista, a fim de que seja assegurada a promoção de saúde sexual e reprodutiva em sua universalidade e integralidade, tal como preconizam os princípios norteadores do SUS.