Possessivos de 3a pessoa: o português arcaico e o português brasileiro contemporâneo

Revista Filologia e Linguística Portuguesa

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ISSN: 2176-9419
Editor Chefe: Prof. Dr. Sílvio de Almeida Toledo Neto
Início Publicação: 31/12/1996
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Linguística

Possessivos de 3a pessoa: o português arcaico e o português brasileiro contemporâneo

Ano: 2014 | Volume: 16 | Número: Especial
Autores: Maria Aparecida Torres Morais, Ilza Ribeiro
Autor Correspondente: M. A. Torres Morais, I. Ribeiro | [email protected]

Palavras-chave: Possessivo de 3a pessoa, anáfora, variável, português brasileiro, português arcaico

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Neste texto tratamos de algumas estratégias de posse, em particular, as que se referem a aspectos sintáticos e semânticos envolvendo os possessivos de 3a pessoa seu e dele, numa perspectiva comparativa entre duas gramáticas: a do português arcaico (PA) e a do português brasileiro contemporâneo (PB). Com base em Müller (1997) e Menuzzi (1999, 2003 a, b), rejeitamos a hipótese da perda da forma seu de 3a pessoa, por ter sido a mesma reanalisada como pronome de 2a pessoa nocional. Ao contrário, propomos que as restrições ao antecedente referencial impostas ao anafórico seu de 3a pessoa, no PB falado, evidencia que a forma está se especializando na interpretação de variável ligada. Evidencia igualmente a atuação de uma condição sintática nas dependências anafóricas, a Condição da Cadeia, que se aplica no nível sentencial e reflete a forma como a sintaxe interpreta princîpios que atuam na anáfora discursiva. No PA, ao contrário, seu é exclusivo da 3a pessoa, podendo tomar antecedentes referenciais e ser ligado por antecedentes quantificados. No entanto, o fato de não expressar morfossintaticamente os traços de número (e gênero) do possuidor pode ter sido um fator determinante no uso possessivo da forma perisfrástica dele. Embora pouco produtivo no documento arcaico estudado, dele aparece nas estrutura de redobro seu...dele, e em alguns contextos de variação seu e dele. Outras estratégias de posse são abordadas, entre elas, os usos clíticos dativos lhe/lhe~lhi/lhis. Concluímos nosso texto com uma reflexão a respeito do que teria causado a reanálise diacrônica que culminou em um traço inovativo nos usos da forma seu de 3a pessoa no PB.



Resumo Inglês:

This paper addresses some comparative aspects of the 3rd person possessive pronouns seu and dele in Modern Brazilian Portuguese (BP) and Old Portuguese (OP). Following Müller (1997) and Menuzzi (1999, 2003) we propose that the BP pronominal system is undergoing some change which made seu become disfavored as an anaphoric form for 3rd person referential antecedents. The generalization has a ramification for the fact that the form dele is the possessive for 3rd person. We also assume Menuzzi’s ideia that the restriction on 3rd person referential antecedents follows from a syntactic condition on anaphoric dependencies, the Chain Condition, which applies to sentential anaphora because it is the way syntax interprets Accessibility Principles, which govern discourse anaphora. In OP, however, the form seu is strongly preferred as a 3rd person possessive pronoun. In these terms, it can take referential antecedents and also be bound by quantified antecedents. We assume that the morphosyntactic properties that differentiated the two forms, seu and dele, mainly gender and number, were crucial to the historical development of the Portuguese language. Other archaic possessive strategies as the dative clitics lhe/lhes~lhi/lhis and the construction seu…dele are also discussed as evidence for dele as a possessive form. We concluded the paper with some suggestions about the cause of the diachronic reanalysis that affected the 3rd person possessive system in the history of BP.