INTRODUÇÃO: A fibrose cística (FC), doença genética autossômica recessiva, que se caracteriza pela pela mutação da proteína denominada cystic fibrosis transmembrane conductance regulator (CFTR), que regula os canais de sódio, provocando acometimento de diversos órgãos. As dificuldades e limitações impostas pela doença crônica traz questões como adesão ao tratamento e interferências diretas de questões psicossociais individuais, como quadros de ansiedade e depressão.
OBJETIVO: O presente trabalho traz resultados de prevalência de ansiedade e depressão, em uma amostra de indivíduos, portadores de FC, acompanhados em um ambulatório especializado de um hospital universitário, em cidade do interior de São Paulo.
METODOLOGIA: Durante os meses de dezembro e janeiro de 2023, pacientes foram convidados a responder a escala de ansiedade e depressão hospitalar, após consulta médica de rotina. Outros dados sociais e funcionais foram obtidos do prontuário médico. Todos os pacientes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e não houve recusas na participação. O Software utilizado para a análise foi o software R, versão 4.2.2, para a análise descritiva utilizando médias ou medianas e desvio padrão e para correlação, o coeficiente de correlação de Pearson.
RESULTADOS: O total de 12 indivíduos participaram da pesquisa, com média de idade de 26 anos (±4,4 anos); 67% do sexo masculino, 58,3% estão em um relacionamento estável há pelo menos 6 meses e com a mesma pessoa e 50% possui renda própria. A maioria, 67%, recebeu o diagnóstico no primeiro ano de vida; 17% entre 1 e 5 anos de vida e 16% entre 15 e 20 anos. A mediana de VEF1 51% (±25,7) e 1,85l (±1,04); CVF 59,5% (±24,8) e 2,65l (±1,21). Todos os pacientes apresentavam infecção crônica, 75% por P. aeruginosa e 91,6% por S. aureus. Nenhum paciente atingiu escore para o diagnóstico provável de ansiedade e depressão. 25% dos pacientes pontuaram de 1 a 3 em ansiedade e 33% em depressão; 33% pontuaram de 4 a 7 em ansiedade e 50% em depressão; 33% pontuaram de 8 a 10 em ansiedade e 8% em depressão; e 8% pontuaram de 11 a 13 tanto em ansiedade como em depressão. Houve uma correlação moderada negativa entre VEF1 e os scores de ansiedade (r=-0,61) e correlação fraca entre VEF1 e os escores de depressão (r=-0,33).
CONCLUSÃO: Todos os indivíduos adultos estudados apresentaram pontuações na escala de ansiedade e depressão em algum nível. Muitos são os fatores que influenciam na saúde mental dos pacientes portadores de doença crônica, especialmente jovens como os indivíduos com FC. A correlação entre os escores mais altos das escalas e menores VEF1 não foi capaz de definir que os pacientes com maior gravidade funcional apresentam maiores escores de ansiedade e depressão. Identificar os pacientes sob maior risco para ansiedade e depressão através da triagem de ferramentas como as escalas empregadas, podem auxiliar na adesão ao tratamento e promoção de qualidade de vida.