Este relato descreve, em palavras e imagens, o processo de realização do filme “Mokõi Kovoe”, uma produção da Associação Cultural de Realizadores Indígenas (Ascuri) desenvolvida em comunidades do povo Kaiowá. Trata-se de uma breve história de como o mito de origem do pássaro sagrado Kovoe percorreu diferentes tempos, suportes, grafias e linguagens até expressar-se em cinema. O relato estrutura-se em torno de dois eixos: primeiro, o caráter comunitário desse processo de produção fílmica, proporcionando uma experiência de retomada do teko joja (jeito harmonioso de ser), depois, a relação entre este processo e o yvy rendy (mundo espiritual), sendo os ñanderu e as ñandesy (rezadores, xamãs, líderes espirituais) os principais guias e agenciadores dessa relação. Imersos em uma paisagem cosmológica em que distintos mundos são conectados por diferentes linguagens, as imagens e os sons do cinema da Ascuri – bem como os corpos-objetos que os produzem e guardam – se integram também como elementos atuantes neste campo de mediações.