Tem-se como principal objetivo apreender o fenômeno do trabalho escravo contemporâneo enquanto manifestação de uma modernidade anômala que tem se instaurado no Brasil durante as últimas décadas. Para tanto, vale-se, empiricamente, da realidade no campo em Goiás, unidade federativa que tem sofrido profundas transformações com o avanço da monocultura canavieira. Entende-se que esta atividade atende aos desÃgnios de acumulação capitalista, estando, por sua vez, ligada a interesses econômicos internacionais no que se refere à exportação de commodities. Desta sorte, infere-se que as relações pretéritas de trabalho, demarcadas em muitos casos pelo trabalho análogo à escravidão, denunciam uma modernidade anômala, posto que ligadas ao que há de mais avançado em termos de circulação e consumo das mercadorias, como o etanol advindo da cana-de-açúcar. Fragmentado em três partes, inicialmente o artigo problematiza o trabalho escravo contemporâneo a partir das noções de um novo rural e de modernidade anômala. Em seguida se atém ao trabalho escravo contemporâneo em Goiás com base na realidade do agronegócio sucroalcooleiro. Por fim, as reflexões retomam o conceito de modernidade anômala trazendo alguns apontamentos acerca dos aspectos ideológicos que ancoram as relações de trabalho no campo e a “ideologia do progressoâ€, tão em voga nos últimos anos.