SOBRE A FICÇÃO FEMININA DA DIÁSPORA NEGRA: UMA ESCRITA QUE OSCILA ENTRE A ORDEM E O CAOS

Revista Entheoria

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ISSN: 2446-6115
Editor Chefe: Jean Paul d'Antony Costa Silva
Início Publicação: 02/07/2014
Periodicidade: Anual
Área de Estudo: Ciências Humanas, Área de Estudo: Linguística, Letras e Artes, Área de Estudo: Multidisciplinar

SOBRE A FICÇÃO FEMININA DA DIÁSPORA NEGRA: UMA ESCRITA QUE OSCILA ENTRE A ORDEM E O CAOS

Ano: 2016 | Volume: 3 | Número: 1
Autores: S. M. Liebig.
Autor Correspondente: S. M. Liebig. | [email protected]

Palavras-chave: NIETZSCHE, FILOSOFIA, MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA, MULHER NEGRA, APOLO E DIONÍSIO.

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Este artigo pretende demonstrar, através do estudo de quatro obras das literaturas afro-brasileira e afro-americana de memória autobiográfica, a aplicabilidade da teoria desenvolvida por Friedrich Nietzsche acerca do comportamento humano (aqui restrito às mulheres negras) face às suas reações, ao preconceito e à discriminação da sociedade dominante. Como produto do realismo urbano, a ficção negra da diáspora sugere decepcionantes experiências afrodescendentes no bojo da sociedade. Todavia, quando se trata da literatura feita por mulheres, percebe-se quase que invariavelmente uma tendência para a tragédia, cuja essência é irreparável, não só do ponto de vista da protagonista, como também do da realidade objetiva, que lhe acrescenta um preconceito adicional, o de gênero. Essas visões trágicas fazem com que as percepções das heroínas tornem-se destrutivas da unidade dentro do mundo moral e ameacem aniquilar o balanço entre os impulsos dos deuses Apolo e Dionísio, unidos pela tragédia. Buscando suporte na teoria nietzschiana, tomamos como parâmetro as figuras de Apolo e Dionísio, que segundo o filósofo, representam respectivamente a cultura e a contracultura.  Este arcabouço teórico serve para desenvolver o argumento de que tal qual Apolo e Dionísio, as mulheres de modo geral e particularmente as mulheres negras, pela tripla subalternidade de gênero, raça e classe, tendem a ser efetivamente relacionadas a um ou a outro deus, dependendo da maneira como reagem à sua condição social. Para tanto, analisamos um corpus constituído pelo romance autobiográfico Diário de Bitita (1986), de Carolina Maria de Jesus, pelo conto igualmente autobiográfico “To Da Duh, in memoriam” (1967), da afro-americana de origem antilhana Paule Marshall, pelo romance The Bluest Eye (1970), da estadunidense Toni Morrison e “Duzu Querença” (1993), conto da afro-brasileira Conceição Evaristo, no intuito de demonstrar como as obras destas escritoras se encaixam dentro da filosofia nietzschiana quando se trata do modo como suas personagens reagem frente ao racismo, ao sexismo e à opressão impostos às mulheres negras onde quer que estes percalços se evidenciem.



Resumo Inglês:

This work aims at showing, through the study of four pieces from both Brazilian and American literatures of autobiographical memory, the applicability of the theory developed by Friedrich Nietzsche on human behavior (here restrict to black women) facing their reactions to racial prejudice and discrimination on the part of the dominant society. As a product of urban realism, the black fiction of the diaspora suggests disappointing experiences to afrodescendants in the mainstream of society. However, when it comes to the literature written by women, one perceives almost invariably a tendency to tragedy, whose essence is irreparable, not only under the viewpoint of the protagonist, but also, of the objective reality, which adds to it an additional prejudice, the one of gender. These tragic views make the heroines´ perceptions turn out to be destructive of the unity inside the moral world and menace to extinguish the balance between the gods Apollo’s and Dionysus impulses, united by tragedy. Searching for support in the Nietzschian theory, we take as parameters the images of Apollo and Dionysus who, in accordance to the philosopher, respectively stand for culture and counterculture. This theoretical frame serves to develop the argument that such as Apollo and Dionysus, women in a general way, and particularly black Women, by the triple subalternity of gender, race, and class, tend to be effectively related to one or another god, depending on the way they react to their social condition. To do so, we analyze a corpus constituted by the autobiographical novel Diário de Bitita (1986), by the afroBrazilian Carolina Maria de Jesus; the equally autobiographical short story “To Da Duh, in memoriam” (1967), by the Afro-Barbadian Paule Marshall, the novel The Bluest Eye (1970), by the Afro-American Toni Morrison and “Duzu Querença” (1993), a shortstory by the afro-Brazilian Conceição Evaristo, objectifying to demonstrate how the Works of such women writers of the diaspora fit Nietzsche’s philosophy in what concerns the way its female characters react when confronted to racism, sexism, and oppression imposed to black women, wherever such harassment comes to happen.