Rosnados, uivos e latidos

Revista Sísifo

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ISSN: 2359-3121
Editor Chefe: Yves São Paulo e Marcelo Vinicius
Início Publicação: 31/12/2014
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Filosofia

Rosnados, uivos e latidos

Ano: 2015 | Volume: 1 | Número: 2
Autores: B.Torlay
Autor Correspondente: Yves São Paulo e Marcelo Vinicius | [email protected]

Palavras-chave: Ironia, Filosofia cínica, Poesia

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Considera-se o cão o melhor amigo do homem. Aplicado aos caninos socráticos que sorviam a água na concha das mãos, o provérbio cai como uma luva. Cínicos, ou cães, não só por recordar constantemente aos próximos a sua animalidade, ou perambular por um recinto específico da antiga Atenas; mas também por cobrar de cada um aquela árdua excelência da qual abrimos mão com tanta facilidade. Assim como fazem os melhores amigos. Em epigrama sobre Antístenes – ouvinte de Sócrates e a quem Diógenes de Sínope não raro escutou. Diógenes Laércio associa o símile do cão à mordacidade típica dessa filosofia: “Na vida, Antístenes, foste um cão autêntico, preparado pela natureza para morder o coração humano com palavras, e não com os dentes”. Que palavras? As do tipo cortantes e percussivas. A filosofia cínica é indissociável de sua poética. Trocadilhos no registro da semântica e reiterações no registro sintático. Importa petrificar o significante a fim de frear, literalmente, a aparente obviedade do curso do mundo. Palavra com sangue e tutano – matérias presentes nos ossos, quitute favorito de cães. Também os dentes, ossos cortantes e percussivos, contêm esses elementos. Palavras com matéria. Por quê? Na especulação filosófica clássica, as palavras são vetores do sentido. Poesia acontece, outro modo, quando se mira a própria palavra. No trocadilho, suspende-se o funcionamento da língua em seu aspecto literal e o poético vem à luz. Dupla suspensão que produz deleite (o riso) ao pôr em evidência uma incongruência, a qual nos confronta, no mesmo golpe, a um sentido inesperado, contudo admissível – momento em que o riso se converte em dúvida. O sabor acerbo da ironia.