Neste estudo, procuro evidenciar uma determinada discursividade sob a qual se efetuam a constituição do indivíduo surdo e a institucionalização da surdez, considerando que nunca somos autores do nosso próprio discurso, pois ele é uma amálgama de vários discursos em que estão impressos outros que o constituíram. Desse modo, a pesquisa é uma construção teórica resultante das tensões, das resistências, das escolhas que se efetuaram na trajetória de vida de quem a produziu e dos sujeitos que nela se narram. Objetiva localizar pe-lo/no discurso de uma surda sobre sua trajetória de vida o modo como têm se constituído a institucionalização da surdez e a fixação do sujeito surdo na norma ouvinte, destacando o papel central da escola.Recorremos à proposta genealógica de Foucault para trazer os saberes locais, desqualificados, e por meio deles chegar ao saberes qualificados e seus efeitos sobre a vida dos sujeitos surdos, conduzindo, assim, a três situações: a entrada no saber-poder da medicina –que traz a surdez como deficiência; a instituciona-lização da surdez nos desdobramentos das práticas de poder, como a ideia de normalização do indivíduo; e aquilo que, quem sabe, poderíamos chamar de escape ou ―espaço de respiro‖ num ―jogo‖ de adaptação e resistência.
In this study, I have attempted to show a certain discursivity under which the constitution of the deaf individual and the institutionaliza-tion of deafness have taken place, by considering that we are never authors of our own discourse, as itis an amalgam of several discours-es on which other discourses that constituted it are printed. Thus, this research is a theoretical con-struction resulting from tensions, resistances, and choices made in the path of life of both the one who produced it andthe subjects that narrate about themselves in it. It aims to spot through / in a deaf woman‘s discourse about her life path, the way the institutionaliza-tion of deafness and the fixation of the deaf subject on the listening standard have been constituted,by highlighting the central role of the school. We have used Fou-cault's genealogical proposal to both evidence local, disqualified knowledges, and reach through them the qualified knowledges and their effects on the lives of deaf people. This has led us to three situations: insertion into the knowledge-power of medicine -which regards deafness as disabil-ity; the institutionalization of deafness in the unfolding of power practices, such as the idea of normalization of the individual; and, perhaps, something we might call escape or "breathing space" in a "game" of adaptation and resistance.