O artigo pretende focalizar a distinção entre ´religiosidade‘ e ´religião‘. Com este objetivo, interpreta a primeira como uma condição estrutural da subjetividade humana: o sujeito, enquanto tal, é sempre abertura e reenvio ao outro. A experiência do sujeito é desde o princÃpio uma experiência de alteridade. A ´religião‘ é descrita, ao contrário, como o conjunto de narrações (mitos) e de práticas (ritos) mediante os quais o sujeito procura ´cultivar e guardar‘ a sua religiosidade. Um segundo momento do trabalho consiste em mostrar como a ´religiosidade‘ se expressa sempre em uma ´religião‘, mas também como esta última corre sempre o risco de transformar-se em uma espécie de cárcere ou de tumba do próprio religioso: perversão da ´religião‘ em um mero ritualismo e uma simples estrutura de poder. Em conclusão, esta seria o que se define como a lei da «contaminação necessária»: não há ´religiosidade‘ que não se encarne em uma ´religião‘, mas também não há ´religião‘ que não corra o risco de transformar-se em uma pura e simples estrutura de poder e de dominação. A ´religião‘, corre sempre o risco de transformar-se de remédio (pharmakon) em veneno (pharmakon).
This paper intends to focus on the distinction between ‘religiosity’ and ‘religion’. It aims at interpreting the former as a structural condition of human subjectivity: the subject, as such, is always openness and move to the other. Since the beginning, the subject’s experience has been one of alterity. ‘Religion’, on the contrary, is described as a set of narratives (myths) and practices (rites), through which the subject seeks to cultivate and display his or her religiosity. The second part of this work consists in showing that ‘religiosity’ always takes the shape of a ‘ religion’, but that the latter always runs the risk of becoming a kind of prison or tomb for the religious itself: the perversion of ‘religion’ into mere ritualism and simply a structure of power. To conclude, there would therefore be a law defined as that of « necessary contamination »: there is no religiosity which is not embodied into a religion and no religion which does not risk transforming itself into a mere structure of power and of domination. Religion, a remedy (pharmakon), always runs the risk of becoming a poison (pharmakon).