OCORRÊNCIA DE LIMITAÇÃO POLÍNICA EM PLANTAS DE MATA ATLÂNTICA

Oecologia Australis

Endereço:
Programa de Pós-Graduação em Ecologia / UFRJ Caixa Postal: 68020
Rio de Janeiro / RJ
Site: http://www.oecologiaaustralis.org/ojs/index.php/oa
Telefone: (21) 8136-2739
ISSN: 19819366
Editor Chefe: Alex Enrich Prast
Início Publicação: 31/05/1905
Periodicidade: Trimestral
Área de Estudo: Ecologia

OCORRÊNCIA DE LIMITAÇÃO POLÍNICA EM PLANTAS DE MATA ATLÂNTICA

Ano: 2010 | Volume: 14 | Número: 1
Autores: Leandro Freitas, Marina Wolowski, Maria Isabel Sigiliano
Autor Correspondente: Leandro Freitas | [email protected]

Palavras-chave: conservação da biodiversidade, interações planta-animal, polinização, sistema reprodutivo, taxas de frutificação

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

A redução do sucesso reprodutivo das plantas decorrente da deposição no estigma de pólen insuficiente ou de pólen inapropriado, denominada de limitação polínica (LP), é um fenômeno disseminado entre as angiospermas. Várias características da história de vida das plantas têm sido associadas à ocorrência de LP. Em outro sentido, modificações ecológicas no processo de polinização, incluindo alterações e perda de polinizadores bióticos, podem resultar em LP crônica, com possíveis conseqüências em nível de população e comunidade. Neste estudo verificamos a ocorrência e a intensidade da LP e sua associação com características de hábito e sistema de incompatibilidade para 85 espécies ocorrentes no domínio da Mata Atlântica. Os dados foram obtidos através de revisão de literatura, a partir de estudos que mediram a taxa de frutificação após polinizações manuais e em condições naturais. Cerca de 58% das espécies não apresentou LP, o que contrasta com outros estudos de revisão, nos quais a LP foi prevalente. Entre as espécies com LP, 20% apresentaram LP extrema (índice de LP > 0,8). A afiliação em dada família influenciou a ocorrência de LP, com predominância de espécies com LP em Orchidaceae e Fabaceae e o oposto para Rubiaceae. A freqüência e intensidade da LP foram mais altas para espécies autoincompatíveis, porém não houve diferença entre espécies arbóreas e não arbóreas. A explicação mais disseminada para LP mais baixa em espécies autocompatíveis é que parte de seus óvulos pode ser fertilizada por pólen da própria planta, tanto por mecanismos de autopolinização espontânea como por transferência feita por polinizadores com pouca mobilidade. A menor ocorrência de LP nas espécies de Mata Atlântica em relação aos demais estudos de revisão sugere que a composição, abundância e atividade dos polinizadores, e conseqüentemente o processo de polinização, estão bem preservados nos remanescentes desse ecossistema. Entretanto, o tema LP na Mata Atlântica é caracterizado mais por lacunas de informação básica que por resultados que possibilitem a identificação de padrões claros. Do ponto de vista conservacionista, são prioritários neste tema estudos que forneçam medidas mais acuradas da ocorrência e intensidade da LP, identifiquem os fatores que conduzem à LP extrema e/ou crônica e avaliem os efeitos da LP em outras etapas do ciclo de vida, como na demografia das populações de plantas.



Resumo Inglês:

The reduction in reproductive success of plants due to deposition of insufficient or inappropriate pollen on the stigma, called pollen limitation (LP), is a widespread phenomenon in angiosperms. Several features of the life history of plants have been associated with the occurrence of LP. In another sense, ecological changes in the pollination process, such as reducing or loosing of biotic pollinators, may result in chronic LP, with possible consequences at the population and community levels. In this study, we verified the occurrence and intensity of LP and its association with characteristics of habit and incompatibility system for 85 species occurring in the Atlantic Forest. Data were obtained through literature review, from studies that measured fruit set after hand pollinations and under natural conditions. About 58% of species did not present LP, which contrasts with other reviews, in which the LP was prevalent. Among the species with LP, 20% showed extreme LP (LP index > 0.8). Affiliation to a given family influenced the occurrence of LP, with predominance of species with LP in Orchidaceae and Fabaceae and the opposite for Rubiaceae. Both frequency and intensity of LP were higher for self-incompatible species but there was no difference between trees and non- tress. The most widespread explanation for lower LP in self-compatible species is that some of its ovules can be fertilized by self-pollen, either by mechanisms of spontaneous self-pollination or by pollinators with low mobility. The lower occurrence of LP in Atlantic Forest compared to other reviews suggests that pollinator composition, abundance and activity, and therefore, the process of pollination are well preserved in the remnants of this ecosystem. However, the issue LP in the Atlantic Forest is characterized by gaps of basic information more than by results that allow the identification of consistent patterns. From the viewpoint of conservation, studies that provide more accurate measures of occurrence and intensity of LP are priority, identifying factors that lead to extreme and/or chronic LP and evaluating the effects of LP in other stages of life-cycle, such as the demography of plant populations.



Resumo Espanhol:

La reducción del éxito reproductivo de las plantas, resultado de la deposición en el estigma de polen insuficiente o de polen inapropiado, denominada limitación polínica (LP) es un fenómeno común en las angiospermas. Varias características de la historia de vida de las plantas han sido asociadas a la ocurrencia de LP. En otro sentido, modificaciones ecológicas en el proceso de polinización, incluyendo alteraciones y pérdida de polinizadores bióticos pueden resultar en LP crónica, con posibles consecuencias para las poblaciones y las comunidades. En este estudio, verificamos la ocurrencia y la intensidad de LP y su asociación con características de hábito y sistema de incompatibilidad para 85 especies presentes en el dominio de la Mata Atlántica. Los datos fueron obtenidos a través de revisión de literatura, a partir de estudios que midieron la tasa de fructificación después de polinizaciones manuales y en condiciones naturales. Cerca de 58% de las especies no presentó LP, lo cual contrasta con otros estudios de revisión en los cuales la LP fue predominante. Entre las especies con LP, 20% presentaron LP extrema (índice de LP > 0,8). La pertenencia a cada familia influenció la ocurrencia de LP, con predominancia de especies con LP en Orchidaceae y Fabaceae y lo contrario para Rubiaceae. La frecuencia e intensidad de la LP fueron más altas para especies autoincompatibles, sin embargo, no hubo diferencias entre especies arbóreas y no arbóreas. La explicación más frecuente para una LP más baja en especies autocompatibles es que parte de sus óvulos puede ser fertilizada por polen de la propia planta, tanto por mecanismos de autopolinización espontánea como por transferencia hecha por polinizadores con poca movilidad. La menor ocurrencia de LP en las especies de Mata Atlántica en relación a los demás estudios de revisión sugiere que la composición, abundancia y actividad de los polinizadores y, consecuentemente, el proceso de polinización, están bien preservados en los relictos de este ecosistema. Mientras tanto, el tema LP en Mata Atlántica está caracterizado más por lagunas de información básica que por resultados que posibiliten la identificación de patrones claros. Desde el punto de vista de conservación, en este tema son prioritarios estudios que suministren medidas más precisas de la ocurrencia e intensidad de la LP, que identifiquen los factores que llevan a LP extrema y/o crónica y evalúen los efectos de la LP en otras etapas del ciclo de vida, como en la demografía de las poblaciones de plantas.