O silenciamento da cultura nos (con)textos de cuidado em saúde mental

Cadernos Brasileiros de Saúde Mental/Brazilian Journal of Mental Health

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ISSN: 1984-2147
Editor Chefe: Walter Ferreira de Oliveira
Início Publicação: 31/12/2008
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Medicina

O silenciamento da cultura nos (con)textos de cuidado em saúde mental

Ano: 2009 | Volume: 1 | Número: 2
Autores: Mônica de Oliveira Nunes
Autor Correspondente: Mônica de Oliveira Nunes | [email protected]

Palavras-chave: saúde mental, cultura, saberes populares

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Esse artigo propõe uma reflexão em torno dos usos e, sobretudo, desusos, ou o que chamamos de “silenciamento” da cultura no campo da saúde mental. Esse silenciamento pode se expressar pelo não reconhecimento da presença da cultura nos contextos do cuidado em saúde mental, pela repulsa da mesma quando a sua presença implica em choques entre tradições culturais distintas, ou através da sua reificação ou caricatura. A partir de alguns exemplos, argumentamos que essas práticas manifestam, muitas vezes, a reprodução de formas culturais dominantes, inclusive aquelas que mantêm a loucura refém de modos hegemônicos de significação, manejo e controle. A busca na sociedade de modos mais includentes, transformadores e desinstitucionalizadores de lidar com o fenômeno da loucura e do sofrimento psíquico deveria dirigir o olhar para outras experiências, tanto aquelas oficialmente instituídas no âmbito de serviços e espaços inovadores quanto aquelas que se desenvolvem no âmbito das práticas populares, que diferem de epistemologias biomédicas e psicologizantes e que são fundadas em contextos socioculturais específicos. É através da cultura, tomada na sua pluralidade, que grupos e pessoas inventam modos criativos de inscrever a loucura em um outro lugar, estabelecendo uma linguagem que abra espaços de jogos à própria diversidade da loucura.



Resumo Inglês:

This paper proposes a discussion of the uses and, above all, abuses – or what we call the “silencing” – of culture in the mental health field. This silencing can find its expression through the non-recognition of the presence of culture within the contexts of mental health care, through its rejection when its presence implicates clashes between different cultural traditions, or through its reification or caricature. Starting with some examples, we argue that these actions frequently manifest the reproduction of dominant cultural forms, including those that confine madness to hegemonic modes of signification, handling and control. The search, inside society, for more inclusive, transforming and deinstitutionalizing ways to lead with the phenomenon of madness and mental
suffering should point at other experiences, either officially established within innovating spaces and services, or developed in the environment of popular health practices, which differ from biomedical and psichologizing epistemologies and are based upon specific sociocultural contexts. It is through culture, approached in its plurality, that groups and persons invent creative ways of inscribing madness in another social place, laying down an idiom that opens up spaces for the very diversity of madness to play with.