O mal-estar na contemporaneidade: performance e tempo

Revista do Serviço Público

Endereço:
SAIS, Área 2-A.
Brasília / DF
70.610-900
Site: http://seer.enap.gov.br/index.php/RSP/index
Telefone: 61 2020-3152
ISSN: 2357-8017
Editor Chefe: Pedro Luiz Costa Cavalcante
Início Publicação: 31/10/1937
Periodicidade: Trimestral
Área de Estudo: Administração

O mal-estar na contemporaneidade: performance e tempo

Ano: 2008 | Volume: 59 | Número: 4
Autores: O. MATOS
Autor Correspondente: O. MATOS | [email protected]

Palavras-chave: tempo, trabalho, capitalismo, modernidade

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Este ensaio propõe uma reflexão acerca da organização institucional do tempo e do trabalho segundo as exigências do capitalismo contemporâneo e as dinâmicas da modernidade, derivando na alienação e na dominação do homem pelo mercado mundializado. Essa lógica acaba por recusar a temporalidade da experiência, resultando no encolhimento do espaço do conhecimento, da liberdade, da felicidade e legando ao homem a perda do sentido e do mestrado do tempo e de sua vida. Tal ideal é regido pelo princípio do desempenho, rendimento e performances do trabalhador em seu ofício – lógica essa atravessada pela competitividade e uma espécie de cultura do ódio que promove a eliminação e a ferocidade em lugar da cooperação e da solidariedade, apoderando-se ainda de espaços democráticos importantes, como a educação, que deixa de ser “educação para a liberdade” para se tornar “educação para a adaptação”.
O tempo na contemporaneidade e o trabalho direcionado a metas, performances são fatalizados pela ordem das urgências, ou seja o culto dos meios e o esquecimento dos fins. Nesse contexto, conceitos como tédio e monotonia devem ser demarcados e diferenciados. Enquanto o tédio configura a temporalidade do passado que se repete continuamente no presente, sem que isso signifique a perda do futuro, a monotonia é um tempo estagnado, uma temporalidade que se exprime na ansiedade de ‘matar o tempo’. É um mal moderno, um tempo patológico, pois seu vazio de significado tem o stress como ideal, já que na monotonia o tempo não passa, pois está alienado na perda do sentido das ações. O mal-estar contemporâneo se expressa em um sentimento de monotonia ou “tédio crônico”, conduzindo à desvalorização de todos os valores. Na vida política contemporânea, “ser é ser percebido”, fórmula narcisista, regressiva e onipotente de ocupação do espaço público, uma lógica do espetáculo que corresponde à do consumo e à substituição permanente de mercadorias, quando nada preenche a carência que elas próprias suscitam. Enfim, o mal-estar contemporâneo disposto nesse tempo patológico está circunscrito a um mundo no qual só conta a lei do valor, não o mundo humano, mas o do capital, sem espaço para fraternidade, amizade e compaixão.



Resumo Inglês:

This essay proposes a reflection on the institutional organization of time and labor, according to the demands of contemporary capitalism and the dynamics of modernity. Such demands derive in alienation and domination of men by market. This logic refuses the temporality of experience, resulting in the shrinking of the space for knowledge, for freedom, for happiness; and leaving men to the loss of sense and the loss of the control of its own time and of its own life. This ideal is conducted by the principle of performance, labor production. Such logic is filled with competitiveness and with a sort of culture of hate; which promotes elimination and ferocity, instead of cooperation and solidarity. It also takes hold of important democratic spaces, such as education, that is no longer “education for freedom” but becomes instead “education for adaptation”.
Time in the contemporary world and the labor directed to goals, performances are doomed by the order of urgencies, the cult of means instead of ends. In this context, concepts such as tediousness and monotony must be demarked and differentiated. While tediousness configures the time where the past repeats itself continuously into the present, without the loss of the future; monotony is a time that became stagnated, a time that expresses itself in the anxiety to “kill the time”, to “make it pass”. It is a modern discontent, illness. A pathological time, since its emptiness of meaning has the stress as an ideal. In the monotony, time does not pass. It is alienated in the loss of senseless actions. The contemporary discontent expresses itself in a feeling of monotony or “chronic tediousness”, conducting men to the devaluation of all values. In the contemporary political life, “to be is to be noticed”: a narcissist, regressive and omnipotent formula of occupying the public space. It is the logic of the spectacle and corresponds to the logic of consumption and of permanent substitution of goods, where nothing fulfills the needs itself created. At last, the contemporary discontent displayed in this pathologic time is circumscribed to a world where the law of value is the only one that counts; not the human world, but the capital world; without space for fraternity, friendship or compassion.



Resumo Espanhol:

Este ensayo propone una reflexión acerca de la organización institucional del tiempo y del trabajo, de acuerdo con las exigencias del capitalismo contemporáneo y las dinámicas de la modernidad, resultando en la marginación y dominación del hombre por el mercado global. Este razonamiento recusa la temporalidad de la experiencia, lo que resulta en el encogimiento del espacio del conocimiento, de la libertad, de la felicidad, legando al hombre la pérdida del sentido y de la conducción del tiempo y de su vida. Tal ideal se rige por el principio del desempeño, rendimiento y actuación del trabajador en su oficio – razonamiento en que se ven la competitividad y una especie de cultura del odio, que promueve la eliminación y la ferocidad en vez de la cooperación y solidaridad, apoderándose todavía de importantes espacios democráticos como la educación, que deja de ser “educación para la libertad” y pasa a ser “educación para la adaptación”.
El tiempo en la contemporaneidad y el trabajo direccionado a metas, actuaciones que se han hecho fatales por el orden de las urgencias, o sea, el culto a los medios y el olvido de los fines. En este contexto, conceptos como tedio y monotonía deben ser delimitados y distinguidos. Mientras el tedio configura la temporalidad del pasado que se repite continuamente en el presente, sin que esto signifique la pérdida del futuro, la monotonía es un tiempo estancado, una temporalidad que se expresa en la ansiedad de “matar el tiempo”. Es un mal moderno, un tiempo patológico, pues su vacío de significado tiene el estrés por ideal, ya que en la monotonía el tiempo no pasa, pues se encuentra aislado en la pérdida del sentido de las acciones. El malestar contemporáneo se expresa en un sentimiento de monotonía o “tedio crónico”, conduciendo a la minusvalía de todos los valores. En la vida contemporánea, “ser es ser distinguido”, fórmula narcisista, regresiva y omnipotente de ocupación del espacio público, una lógica del espectáculo que se corresponde con la del consumo y la sustitución permanente de mercancías, cuando nada satisface la carencia que ellas mismas suscitan. En fin, el malestar contemporáneo dispuesto en este tiempo patológico está circunscrito a un mundo en el cual sólo cuenta la ley del valor, y no el mundo humano, pero el del capital, sin espacio para la fraternidad, amistad y compasión.