A morfologia de flexão no Português do Brasil: ensaio sobre um discurso de “perda”

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Início Publicação: 31/05/2005
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Linguística

A morfologia de flexão no Português do Brasil: ensaio sobre um discurso de “perda”

Ano: 2010 | Volume: 8 | Número: 1
Autores: Maria Clara Paixão de Sousa
Autor Correspondente: Maria Clara Paixão de Sousa | [email protected]

Palavras-chave: Morfologia, Flexão Verbal, Mudança Linguística, Português do Brasil.

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

As primeiras obras de reflexão gramatical sobre o português
falado no Brasil estão permeadas por dois discursos
fundamentais que se entrecruzam e se retroalimentam: de um
lado, o discurso da identidade nacional brasileira, marcado pelo
peso das relações simbólicas entre o Brasil “culto” e o Brasil
“popular”; de outro, o discurso naturalista, marcado pelo peso da
visão do percurso orgânico de nascimento, apogeu e decadência
das línguas. Neste artigo, iremos explorar essas duas vertentes
no texto de duas obras importantes da reflexão linguística
do início do século XX (Melo, 1946; Silva Neto, 1950),
concentrando-nos em suas exposições sobre o problema da
“erosão do paradigma flexional”. Propomos que, na elaboração
de descrições e teorias sobre este aspecto das falas brasileiras,
tais obras expressam os dois discursos acima mencionados. Essa expressão se concretiza na composição do discurso sobre
o paradigma flexional, pontuado por termos como “redução”,
“falta”, “empobrecimento”. Iremos propor que esse discurso
remete à incorporação do paradigma schleicheriano segundo o
qual a “perda” da morfologia flexional é um dos fatos principais
a revelar o destino de decadência e empobrecimento das
línguas no tempo. Por fim, examinaremos as relações entre essa
visão sobre o destino das línguas e o caso específico brasileiro,
remetendo a interpretação da “perda” da morfologia de flexão à
interpretação de um estágio de decadência da sociedade, relação
que se explicita, sobretudo, pela remissão dos autores ao contato
do português com populações de origem “primitiva”.



Resumo Inglês:

The early debate on the grammar of Portuguese spoken in Brazil is
marked by two interweaving lines of discourse: the discourse on Brazilian
national identity (in which the "popular" and the "cultivated" present
great symbolic weight) and the naturalist discourse on the organic
path of language birth, growth and decadence. In this paper we shall
examine those two lines of discourse in two important examples of mid-
XX century work on Brazilian Portuguese (Melo, 1946; Silva
Neto, 1950), in particular where the "erosion of morphological
paradigms" is concerned. We propose that the descriptions and theories
brought by these authors express the abovementioned discourses, as
can be examined in the composition of the expositions based on terms
such as "reduction", "absence", "loss". This discourse is related to the
incorporation of the schleicherian paradigm according to which the
"loss" of flexional morphology is one of the most important signs of the
decadence of a language in historical times. Finally, we shall examine the
relations between this vision of language decadence and the particular case
of Brazilian Portuguese, claiming that the interpretation of the "loss"
of morphology is connected to an interpretation of a critical stage of
decadence in the Brazilian society, which is explicitated when the authors
discuss the contact of Portuguese with "primitive" peoples.