O presente artigo tem por objetivo refletir, desde uma visão enunciativa de linguagem (Maingueneau, 2013) e de seu viés de intervenção (Rocha, 2006; 2014), acerca da produção discursiva do processo de suspeição da pessoa negra e de sua condução à condição de “fora de lugarâ€, a partir de construções discursivas que a mídia tem feito desta população em diálogo com discursos que circulam em outras esferas como a das práticas policiais e da justiça. Partimos de compreensão da linguagem como prática social (Bakhtin, 1995; 1997) que, situada sociohistoricamente e atravessada por relações de saber e poder (Foucault, 2013; 2013a), não apenas representa, mas intervém em uma dada realidade. Com relação à questão racial, entendemos como Guimarães (2006; 2009), que esse processo resulta da colonização que expropriou o africano de sua humanidade e é reforçado nos discursos que a visam manter os privilégios do grupo hegemônico. Para tal, dialogando com pesquisa realizada por Paiva (2015), no acervo do jornal Folha de S. Paulo, e procedemos a uma análise discursiva de notícia selecionada. Os resultados apontam que, em nome da neutralidade e imparcialidade que tende a ser vista como característica do gênero notícia, ao apresentar os fatos, o jornal constrói e reafirma, seu posicionamento político alinhado a discursos hegemônicos enunciados por grupos dominantes.
 The      present      paper,      grounded   on   an   enunciative   view   of   language  (MAINGUENEAU,  2013)  and  of  its  interventional  potential  (ROCHA, 2006,  2014),  aims  at  reflecting  upon  the  discursive     production     of     suspicion     around   black   people,   and   upon   their   depiction  as  ‘outcasts’,  in  the  discursive  constructions of such a population which are    being    made    by    the    media    in    connection  to  discourses  which  circulate  in  other  spheres,  such  as  those  of  police  and  judicial  practices.  We  see  language  as   a   social   practice   (BAKHTIN,   1995;   1997)   which,   socio-historically   situated   and   crisscrossed   by   power-knowledge relations  (FOUCAULT,  2013;  2013a),  not  only  represents,  but  intervenes  upon  a  given  reality.  As  for  the  racial  question,  we         subscribe         to         Guimarães’         understanding  (2006;  2009)  that  such  a  process      derives      from      colonization      practices, which deprived African people of their identity,  and  that  it  is  reinforced in  discourses  which  aim  at  maintaining  the   hegemonic   group’s   privileges.   In   order to do so, in line with Paiva’s (2015) investigation,  we  have  selected  a  news  story from Folha de São Paulo’s archives, and   we   have   performed   a   discursive analysis. Results indicate that, in name of the neutrality and the impartiality which tend  to  be  seen  as  characteristics  of  the  genre, the newspaper, in reporting on an event,    constructs    and    reaffirms    its    political  positioning  in  alignment  withhegemonic    discourses    enunciated    by    dominant groups.