Francis Bacon sob o olhar de Gilles Deleuze: a imagem como intensidade

Viso: Cadernos de estética aplicada

Endereço:
Rua Professor Marcos Waldemar de Freitas Reis, s/n
Niteroi / RJ
24210-201
Site: http://www.revistaviso.com.br
Telefone: (21) 2629-2863
ISSN: 1981-4062
Editor Chefe: Vladimir Vieira
Início Publicação: 31/12/2006
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Filosofia

Francis Bacon sob o olhar de Gilles Deleuze: a imagem como intensidade

Ano: 2007 | Volume: 1 | Número: 3
Autores: Osvaldo Fontes Filho
Autor Correspondente: Osvaldo Fontes Filho | [email protected]

Palavras-chave: pintura, intensidade, imagem, Gilles Deleuze, Francis Bacon

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

O ensaio de Gilles Deleuze La logique de la sensation é texto que se detém principalmente na prática e na eficácia da imagem. A pintura de Francis Bacon é ali tomada como paradigma de modernidade ao investir contra os clichês expressivos e ao produzir imagem junto à brutalidade dos fatos, como um contra-efeito do narrativo. Em uma obra que conjura todo modelo a representar, toda história a contar, “alguma coisa se passa”, explica Deleuze, “que define o funcionamento da pintura”. Algo se passa, tem lugar: o acontecimento de uma catástrofe e de uma histeria no ato de pintura que acomete a Figura de modo a transmitir uma potencial violência de reação e de expressão. O “Bacon” de Deleuze apresenta a realidade vivida em uma nova e não-convencional ordem de sensação.

Neste artigo, são comentados os modos como o filósofo interpreta os atos físicos da pintura de Bacon — marcas aleatórias, varredura da massa pictural, escansão das superfícies —, procedimentos que introduzem no mundo visual da figuração a variedade caótica dos fatos e sentidos. Mostra-se como as faces e as figuras contorcidas, distorcidas, escorchadas de Bacon recebem uma voz conceitual complementar no texto de Deleuze. Consequentemente, focaliza-se a disposição de alguns conceitos do filósofo: diagrama, Figura, diferença, espaço háptico. Locados no espaço afetivo ou na “lógica da sensação” da pintura baconiana, esses conceitos atribuem legitimidade ao entrelaçamento e à co-implicação entre arte e filosofia.

Uma última observação dá conta do fato de a prática da imagem em Bacon, apresentada por Deleuze no palco de uma modernidade particularmente solapada por um “dilúvio anestésico de imagens reprimindo a possibilidade de pensar”, evidenciar para o filósofo os rumos necessariamente sinuosos, “reptilíneos”, do pensamento moderno. Tanto o conceito como a forma criam por catástrofe, por conflagração, por variações alotrópicas.



Resumo Inglês:

Deleuze’s The Logic of Sensation is mainly concerned with the practice and the efficacy of image. Francis Bacon’s paintings are taken as a paradigm of modernity by their resistance to expressive clichés, their efforts to escape traditional narrative and by their ability to produce images as a result of the brutality of facts. In a work that deserts any model of representation, any history to be narrated, “something happens”, claims Deleuze, “that shows how painting is really made”. Catastrophe and hysteria within the act of painting overcome Figure so as to convey a potential violence of reaction and expression. Deleuze’s Bacon presents the reality we live under the new and unconventional order of sensation.

This paper comments Deleuze’s interpretation of physical acts in Bacon’s painting — random marks, sweeping and brushing motions, surface scansion — as techniques that introduce into the visual world of figuration a chaotic variety of facts and senses. Bacon’s twisted, distorted, mangled faces and figures are shown as receiving a complementary conceptual voice in Deleuze’s text. Therefore, we focus on some of the philosopher’s concepts: diagram, Figure, difference, haptic space. Located within the affective space or the "logic of sensation" of Bacon’s paintings, such concepts permits us to properly draw an intertwining and co-implication between art and philosophy.

On a final note, we observe that, presented by Deleuze as paradigmatic in a modernity assailed by an “anesthetic deluge of images impeding thought”, Bacon’s practice of image evidentiates to the philosopher the sinuous, “reptilinian” ways undertaken by modern thought. Both concept and image create through chaos, conflagration and allotropic variations.