Estamos falando de escola. Do currículo e da didática da escola.Da nossa prática,da aprendizagem de nossos alunos e alunas.Em alguma medida,desde sempre,nós,educadores e educadoras,almejamos uma escola nova—ou uma nova escola, tanto faz.O importante é que seja para todos,que não seja excludente,que dissemine o conhecimento e que democratize as oportunidades.'O cenário educacional brasi-leiro,desde o início da década de 90, deparou-se com mais uma utopia. A utopia da Escola para Todos, inclusiva,que contemple ato dos sem distinção de raça,de sexo,de religião ou de classe social.Uma escola que esteja aberta para acolher as diferenças, sejam elas cognitivas e/ou físicas.Enfim,uma escola que recolha os anteriormente excluídos ou marginalizados do processo es-colar,identificada,portanto,como que conhecemos hoje por educação multicultural.O objetivo deste trabalho,é o de apresentar,sucintamente,reflexões acerca desta escola inclusiva na sua relação com o cur-rículo e,mais especificamente,na relação entre currículo e identidade.Por meio de um estudo de caso,em uma escola pública e outra privada do município do Rio de Janeiro,utilizamos obser-vações,depoimentos e entrevistas com pais e professores para explorar a correlação entre o discurso multicultural e a propostada Escola Inclusiva de modo alançar um olhar crítico ao processo de inclusão de aprendiz escom necessidades educativas especiais ,mais especificamente de aprendizes surdos”,à dinâmica da sala de aula e do currículo da escola regular,tal como vem ocorrendo no mo-mento atual.Inicialmente,discutimos as diversas vertentes do chamado multiculturalismo e sua utilização na proposta inclusivista.Em seguida,defendendo o entendimento de um multiculturalismo crítico e pós-modernizado,capaz de lidar com as diferenças de forma não hierarquizada,nos utilizamos de estudos foucaltianos para traçar uma genealogia do conceito de deficiência,buscando romper com a pers-pectivaqueoutilizaparaforma-lizarprocedimentosnormativos,noçõesteleológicasecapacita-cionistas,ouseja,buscandorom-percomaidéiaevolutivaeclas-sificatóriadossujeitosnahistó-ria.Traçamos,ainda,a estreita correlação entre a linguagem e o processo de construção de identidade dos múltiplos sujeitos que compõem as salas de aula inclusivas.Nesta medida,o universo bilíngue dos surdos,que opera entre a língua de sinais e a língua portuguesa,no caso do Brasil, é entendido como um espaço,no qual,sefaz em necessárias específicas intervenções didáticas.O que pode parecer para to-dos um descalabro,questionar a inclusão,para nós,é sensatez.É o reconhecimento da necessidade de uma política da diferença que ultrapasse os ineficazes discursos democráticos e que viabilize singulares processos de ensino e aprendizagem.Trata-se,portanto,de se inverter a lógica inclusivista.Parafraseando SOUZA SANTOS(1999),acreditamos que“...estamos no fim de um ciclo de hegemonia de uma certa ordem científica em que as condições epistemológicas de nossas perguntas estão inscritas no avesso dos conceitos que utilizamos para lhes dar respostas”.(p.09)Argumentamos,pois,que a inclusão,tal qual vem ocorrendo no interior de nossas escolas ,é excludente na medida em que não viabiliza processos específicos de aprendizagem.Exclui,portanto, o que é singular.Instaura,de maneira contraditória,um único sujeito,um úni-co processo epistemológico de construção de conhecimento.