Diferenças fatais: suicídio, raça e trabalho forçado nas Américas

Revista Mundos do Trabalho

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ISSN: 19849222
Editor Chefe: Aldrin A. S. Castellucci
Início Publicação: 31/05/2009
Periodicidade: Anual
Área de Estudo: História

Diferenças fatais: suicídio, raça e trabalho forçado nas Américas

Ano: 2019 | Volume: 11 | Número: Não se aplica
Autores: Marc Adam Hertzman
Autor Correspondente: Marc Adam Hertzman | [email protected]

Palavras-chave: suicídio, escravidão, Zumbi

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Resumo Português:

Neste ensaio, examino a relação entre raça e suicídio nas Américas. Mostro como as ideias sobre suicídio ajudaram a gerar e reforçar várias formas de diferença racial e demonstro como as ideias coloniais sobreviveram por muito tempo após a independência e a abolição da escravidão, geralmente em novas formas. A historiografia existente sobre suicídio enfatiza respostas morais, religiosas e médicolegais à autodestruição. Menos atenção foi dada à raça ou ao fato brutal, amplamente reconhecido (embora raramente discutido em profundidade) pelos estudiosos da escravidão, que a servidão forçada também transformou o suicídio em uma questão essencialmente econômica – uma ameaça aos resultados dos plantadores e comerciantes e uma ameaça à produção. À medida que a escravidão e o trabalho forçado se tornavam sistemas de valores globais dominantes que determinavam quem contava como humano, a capacidade de perecer pelas próprias mãos se tornou um meio de vencer essa determinação. Em algum momento, histórias excepcionais de suicídio heroico de mártires nativos ou negros passaram a fazer parte de narrativas nacionais, mas esse processo dependia da dissociação entre autodestruição e produção econômica, o que ajudou a transformar atos, antes vistos como ameaça às fundações coloniais, em histórias de sacrifício e nascimento nacional. Com o tempo, e apesar das mudanças significativas, a autodestruição funcionou consistentemente como um marcador duradouro da diferenciação racial.



Resumo Inglês:

This essay examines the relationship between race and suicide in the Americas. I show how ideas about suicide helped generate and reinforce multiple forms of racial difference and demonstrate how colonial ideas survived long after independence and the abolition of slavery, often in new forms. The extant historiography on suicide emphasizes moral, religious, and medico-legal responses to self-destruction. Less attention has been paid to race or to the brutal fact, widely acknowledged (though rarely discussed in depth) by scholars of slavery, that forced servitude also made suicide a quintessentially economic issue – a threat to planters’ and traders’ bottom line and a threat to production. As slavery and forced labor became dominant global value systems that determined who counted as human, the ability to perish by one’s own hand became a means for making that determination. Eventually, exceptional stories of heroic suicide by native or black martyrs became part of national narratives, but that process depended on the decoupling of selfdestruction and economic production, which helped turn acts once seen as threats to colonial foundations into stories of sacrifice and national birth. Over time, and despite significant changes, self-destruction consistently functioned as a durable marker of racial differentiation.