Por lidar com mudanças reais provocadas por avanços científicos e suas consequências, a Ficção Científica (FC) foi até mesmo considerada um gênero em decadência depois do furor do início do século fortalecido pelas Grandes Guerras e pela corrida espacial. Este artigo, extraído de uma dissertação de mestrado, investiga uma das reações da FC a essa ameaça de extinção: a mitificação da ciência. Em uma sociedade altamente racional, até mesmo os aspectos transcendentais são secularizados e a arte obviamente responde a isso. Através da análise de dois grupos de personagens do romance inglês Deuses Americanos (2001), busca-se compreender um dos processos de representação da ciência em obras de FC e, para tanto, utiliza-se as teorias sobre o sagrado e o mito de Roland Barthes, Ernst Cassirer e Mircea Elíade, entre outros, para observar-se a transformação de elementos tecnocientíficos em deuses. A aproximação e sobreposição entre fé e ciência pode ser considerada um dos caminhos trilhados pela FC contemporânea, que passa por um momento de renovação e experimentação, mas não de decadência.
By dealing with real changes caused by scientific advances and their consequences, Science Fiction (SF) has even been considered a decaying genre after the frenzy caused by the Great Wars and space race. This article, extracted from a Master’s thesis, investigates one of the reactions of SF as a genre to the threat of extinction: the mitification of science. In a highly rationalized society, even transcendental aspects become secularized and art obviously replies to that. Through the analysis of two groups of characters from the English novel American Gods (2001), the aim is to understand one of the processes of representation of science in SF works. Roland Barthes, Ernst Cassirer and Mircea Elíade’s theories about myth and the sacred are used, among other authors, to observe the transformation of techno-scientific elements into gods. The approximation and overlapping of faith and science could be considered one of the paths followed by contemporary SF, which is going through a moment of renewal and experimentation, but not of decay.