O presente artigo apresenta uma reflexão crítica no contexto de emergência do novo coronavírus (SARS-Cov-2). Espera-se contribuir com uma discussão que permita aos investigadores dos estudos sociais da ciência e tecnologia (ESCT) aprofundarem seu conhecimento das paisagens multiespécie e sua relação com as crises socioambientais e sanitárias atuais. Embora a pandemia da Covid-19 possa ser vista por alguns grupos como a máxima manifestação de um modelo civilizatório em crise, ou como um ponto de inflexão na trajetória linear e acrítica impulsionada pelos regimes tecnocientíficos modernos, neste artigo, enfatiza-se a importância de pensar a conjuntura a partir das possíveis alianças, colaborações e arranjos para-além-do-humano, que podem ter emergido e se potencializado nesse período. As ideias expostas no texto convidam a prestar mais atenção às formas em que alguns relacionamentos multiespécie ocorridos nos meses do confinamento social possibilitam a descoberta de novas sensibilidades afetivas, que tensionam os imaginários de securitização e biossegurança. Neste sentido, a ficção literária, como o romance Desonra, escrito por J. M. Coetzee, representam meios poderosos para ajudar-nos na compreensão desses fenômenos empíricos.
This paper aims to introduce a critical reflection on the 2019-new coronavirus (SARS-CoV-2). It hopes this discussion could be useful to other researchers in science and technology studies (STS), to better understand the multispecies landscapes emergence and its relations with current socio-environmental and sanitary crisis. Although the COVID-19 pandemic may be seen by some groups as the ultimate manifestation of a civilizational model in crisis, or an inflection point in the linear and uncritical trajectory driven by the modern technoscientific project; this paper emphasizes the importance of thinking about the conjuncture from the possible more-than-human alliances, collaborations and arrangement that could have appeared in this period. It concludes with an invitation to pay attention to new affective sensibilities emerging from multispecies relationships in the context of lockdown due to the COVID-19 outbreak. Finally, it could be argued that creative works of literary fiction, like Disgrace, a novel by J. M. Coetzee, are powerful means for understanding this empirical phenomenon.
Este artículo presenta una reflexión crítica sobre el nuevo coronavirus (SARS-Cov-2). Se espera contribuir con una discusión que permita a los investigadores de los estudios sociales de la ciencia y la tecnología (ESCT) profundizar su conocimiento de los paisajes multiespecie y su relación con las crisis socioambientales y sanitarias actuales. A pesar de que la pandemia de COVID-19 puede ser vista por algunos grupos como la máxima manifestación de un modelo civilizatorio en crisis, o como un punto de inflexión en la trayectoria lineal y acrítica que impulsan los regímenes tecnocientíficos modernos; en este artículo, se enfatiza la importancia de pensar la coyuntura a partir de las posibles alianzas, colaboraciones y arreglos más-allá-de-lo-humano, que pueden haber emergido durante este período. Las ideas expuestas en el texto invitan a prestar más atención a las formas en que algunos relacionamientos multiespecie, ocurridos en los meses del confinamiento social, pueden favorecer el descubrimiento de nuevas sensibilidades afectivas, que tensionan los imaginarios de la securitización y la bioseguridad. En este sentido, obras creativas de la ficción literaria, como la novela Desgracia, escrita por J.M. Coetzee, representan medios poderosos que nos ayudan a comprender este fenómeno empírico.