Bordado e transgressão: questões de gênero na arte de Rosana Paulino e Rosana Palazyan

Proa

Endereço:
Rua Sérgio Buarque de Holanda - 421 - Cidade Universitária
Campinas / SP
13083-859
Site: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/proa
Telefone: (19) 3521-1612
ISSN: 2175-6015
Editor Chefe: Christiano Key Tambascia
Início Publicação: 01/11/2009
Periodicidade: Anual
Área de Estudo: Antropologia, Área de Estudo: História, Área de Estudo: Sociologia, Área de Estudo: Artes, Área de Estudo: Multidisciplinar

Bordado e transgressão: questões de gênero na arte de Rosana Paulino e Rosana Palazyan

Ano: 2010 | Volume: 2 | Número: Não se aplica
Autores: Simioni, Ana Paula
Autor Correspondente: Ana Paula Simioni | [email protected]

Palavras-chave: Arte, Gênero, Bordado, Mulheres artistas

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

É possível se afirmar que os objetos artísticos, em virtude de seus atributos materiais (e não somente sua autoria), possuem um “gênero”? As artes têxteis, e em particular os bordados, parecem ser o caso de objetos “naturalmente atrelados ao fazer feminino”. Pretende-se debater o modo com que tais faturas foram, historicamente, feminizadas no mundo artístico ocidental, como resultado do processo de imposição do sistema acadêmico. Desde o século XVI, as academias passaram a congregar a formação e a consagração dos artistas. Vale notar que, tal sistema estabelecia a “hierarquia dos gêneros”, um sistema de classificação das modalidades artísticas que as escalonava, estabelecendo como modalidade mais “alta” a pintura de história, domínio quase exclusivo dos artistas homens, e condenando como “baixas” as artes aplicadas, vistas como domésticas e, por extensão, femininas. Com o advento do feminismo, nos anos 1970, artistas como a norte-americana Miriam Schapiro articularam uma revalorização das tradições “femininas” a um discurso político denunciador das práticas de discriminação de gênero operantes dentro da própria disciplina história da arte. No Brasil, desde os anos 1980, verificam-se interessantes propostas de renovação das artes têxteis, notadamente, obras como as de Rosana Paulino e Rosana Palazyan merecem atenção pela capacidade de operar subversões dos sentidos tradicionalmente atrelados a tais faturas “femininas”; seus bordados propiciam novas formas de olhar e de pensar, extremamente críticas às hierarquias dos gêneros (artísticos e sociais) que vigoram tanto nas práticas cotidianas, quanto nos mundos das artes.



Resumo Inglês:

Is it possible to assert that artistic objects have a gender, in virtue of their material attributes (and not only their authorship)? Textile arts and embroidery, in particular, seem to pertain to a category of objects that are “naturally associated to feminine work”. We intend to argue how such works were historically feminized in the western artistic milieu, as a result of a process of imposition undertaken by the academic system. Since the 16th century, the academies began to congregate the artist’s formal training and also his consecration. One should notice that such a system established a hierarchy of genres, a classification system that ranked art-forms, considering history painting as the “highest” form of art, tenured almost exclusively by male artists, and condemning as “inferior” the applied arts, regarded as domestic, and in this way, feminine. The uprise of feminism, in the seventies, led the way to artists like the North American Miriam Schapiro to carry on a reappraisal of “feminine” traditions, simultaneously articulating it to a political discourse against gender discrimination practices operating within the very field of art history. In Brazil, since the 1980s, interesting projects renovated the textile arts. Within this context, the works of Rosana Paulino and Rosana Palazian are particularly noteworthy due to their ability to subvert perceptions and meanings traditionally associated to these “feminine” crafts; their embroideries engage new ways of looking and thinking, that are extremely critical of the hierarchy of genres and of gender (artistic and social), which rule not only daily practices, but also the art world.