O ensaio de Max Weber sobre o qual nos propomos a refletir, recente ganhador - entre uma centena - do prêmio de melhor ensaio de todos os tempos, promovido pelo jornal Folha de São Paulo, busca estabelecer uma correlação, ou, mais precisamente, uma relação de causa e efeito entre algo que denomina "ética", surgida em determinado contexto cultural e religioso sob o signo do protestantismo puritano, e o sistema econômico dominante a partir do século XIX, conhecido como capitalismo. Nesta abordagem, fazemos uma tentativa de nos distanciarmos um tanto da generalizada aceitação da existência dessa correlação tal como colocada por Weber, para verificar a propriedade das palavras contidas no título da obra, tendo em vista que este contém em si mesmo enunciada a tão festejada tese de Max Weber. Que o capitalismo moderno tenha se originado e medrado em ambiente puritano está fora de dúvida, é fato histórico, e geográfico. O que se pretende, neste singelo trabalho, é tão-somente colocar algumas questões sobre as bases conceituais de Weber, chegando a delimitar, precisar, esclarecer melhor que tipo de correlação efetivamente existiu, e ainda existe em parte, entre puritanismo e capitalismo. Pretendemos, assim, examinar até que ponto merece efetivamente o nome de "ética" o espírito, ou melhor seja, a mentalidade, o conjunto de pressupostos da ação dos adeptos do puritanismo e lançar algumas bases para esclarecer em que medida é cabível atribuir-se a um sistema econômico-político-social, o capitalismo, um "espírito", como pretendeu Weber, como ele próprio reconheceu, de forma "pretensiosa".