Em “O pÃfano e as árvoresâ€, Ricardo Ramos, através do confronto entre campo e cidade,
presente e passado, estabelece uma comparação entre transformação urbana e utopia
rural, no paralelo que o personagem trava entre a sua condição real e presente, marcada
pela insatisfação causada por sua percepção negativa do ambiente que o rodeia, a cidade
moderna, e a lembrança já desfigurada pelo tempo e espaço de um mundo experimentado por
seus antepassados. O personagem estabelece um comparativo entre a confrontação de sua
observação do mundo urbano – representado pelo ritmo de vida da cidade moderna, ambiente
de coletividades indefinidas, marcado por relações transitórias e fugazes que geram relações
de indiferença entre os seus habitantes, resultando em indivÃduos massificados e destituÃdos
de identidade e na degradação e esfacelamento social –, e a rememoração de lembranças
que se estabelece em seu monólogo interior. Nessa dualidade entre o fÃsico e o emocional,
presente e passado, mundo urbano e mundo rural, o personagem vai além de um mero
posicionamento nostálgico ao buscar a possibilidade da experiência passada no presente como
forma de resgate de uma continuidade já rompida ou em vias de rompimento, na tentativa de
restabelecer sua identidade.
