Análise do escorpionismo no Brasil no período de 2000 a 2010

Revista Pan-Amazônica de Saúde (RPAS)

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ISSN: 2176-6223
Editor Chefe: Isabella M. A. Mateus
Início Publicação: 02/01/2010
Periodicidade: Trimestral
Área de Estudo: Ciências Biológicas, Área de Estudo: Ciências da Saúde, Área de Estudo: Multidisciplinar

Análise do escorpionismo no Brasil no período de 2000 a 2010

Ano: 2014 | Volume: 5 | Número: 1
Autores: Guilherme Carneiro Reckziegel, Vitor Laerte Pinto Junior
Autor Correspondente: Guilherme Carneiro Reckziegel | [email protected]

Palavras-chave: Escorpionismo, Escorpião, Envenenamento, Perfil Epidemiológico, Saúde Pública, Brasil

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Introdução:O escorpionismo no Brasil apresenta-se como problema de saúde frente ao crescente número de acidentes e óbitos. Naquele País, os escorpiões distribuem-se por todas as regiões e ecossistemas, sendo reconhecidos como escorpiões de importância médica os pertencentes ao gênero Tityus, em especial quatro espécies: T. serrulatus, T. stigmurus, T. bahiensis e T. obscurus. As atividades de vigilância do escorpionismo no Brasil, coordenadas pelo Ministério da Saúde, tiveram início oficial em 1988, porém, somente a partir de 1997, os acidentes por animais peçonhentos passaram a ser notificados no Sistema Informação de Agravos de Notificação (SINAN), sendo este atualmente o sistema oficial de registro. Desde o início da vigilância do escorpionismo no país, vem se verificando um aumento no número de registros de casos e óbitos. Nos últimos anos, o escorpionismo mostrou-se como o acidente por animal peçonhento de maior crescimento, apresentando-se com elevada letalidade em crianças, alta incidência na Região Nordeste, acometendo, em sua maioria, indivíduos em faixa etária economicamente ativa. Objetivos: Descrever as características do escorpionismo no Brasil e definir grupos, áreas e fatores de risco para o óbito, em dois estudos: 1) O escorpionismo no Brasil nos anos de 2000 a 2010: uma análise descritiva; e 2) Análise clínico-epidemiológica do escorpionismo no Brasil no período de 2007 a 2010. Metodologia: Para a realização dos estudos propostos, utilizou-se os registros dos bancos de dados do SINAN, versões SINAN-Windows, correspondendo aos anos de 2000 a 2006, e versão SINAN-NET, correspondendo aos anos de 2007 a 2010, atualizados até a data de 9 de outubro de 2012. Quanto ao estudo 1, foi realizada análise epidemiológica descritiva, período de 2000 a 2010, com abordagem de tempo, pessoa e lugar; quanto ao estudo 2, limitado aos anos de 2007 a 2010 devido à melhor qualidade dos dados clínicos presentes na versão mais atual do SINAN (SINAN-NET), foi realizada análise clínico-epidemiológica descritiva e analítica. Para a tabulação e análise dos dados foram utilizados os softwares TabWin32 3.6b, EpiInfo 3.5.3 e Microsoft Excel 2010; sendo utilizados para apresentação dos resultados, dados brutos, medidas simples de frequência, médias aritméticas e cálculos de risco relativo (intervalo de confiança de 95%) com base na taxa de letalidade. Resultados: Estudo 1 – período de 2000 a 2010: Foram notificados, nesse período, 359.427 acidentes escorpiônicos, dos quais 561 evoluíram para óbito. As taxas médias anuais de incidência e mortalidade, para cada 100 mil habitantes, foram de 17,7 e 0,028, respectivamente; sendo de 0,16% a taxa média anual de letalidade. As maiores frequências de registros foram em indivíduos do sexo masculino, de raça/cor negra, na faixa etária de 20 a 49 anos, nos meses de outubro a janeiro e em zona urbana. Excepcionalmente na Região Norte do País, observou-se predomínio de acidentes nos meses de junho e julho e em zonas rurais. A taxa de incidência foi maior em indivíduos de 65 anos de idade ou mais, sendo maior a taxa de letalidade em crianças de até 9 anos de idade. As maiores frequências de casos e óbitos e taxas médias anuais de incidência e mortalidade foram registradas nas Regiões Nordeste e Sudeste do País, porém as maiores taxas médias anuais de letalidade foram registradas nas Regiões Centro-Oeste e Norte. Estudo 2 – período de 2007 a 2010: Foram notificados, nesse período, 179.545 acidentes escorpiônicos, dos quais 303 evoluíram para óbito. A maioria dos acidentes foi clinicamente leve (82,8%), com apenas 1,4% de casos graves, os quais apresentaram letalidade de 4,71% e risco de óbito 18,97 vezes maior em relação aos casos moderados. As manifestações clínicas locais mais frequentes foram dor (90,2%) e vômito/diarreia (3%). Apenas 0,9% dos acidentados apresentaram alguma complicação sistêmica. Indivíduos clinicamente graves, tratados com soro antiescorpiônico (SAEsc) em 3 h ou mais do acidente, apresentaram risco de óbito 2,84 vezes maior em relação aos tratados em até 1 h pós-acidente. Observou-se como área, grupo e fatores de risco para o óbito os acidentes em zona rural, em crianças de até 9 anos de idade, os casos graves e o atendimento soroterápico tardio (acima de 3 h). Conclusão: Nos últimos anos, observou-se aumento das taxas de incidência e mortalidade, devendo ser estimulada a intensificação dos programas de prevenção de acidentes e controle de escorpiões. O perfil epidemiológico descrito reforça a necessidade de capacitação contínua dos profissionais de saúde envolvidos no diagnóstico e tratamento dos acidentados, visando, em tempo oportuno, a identificação do gênero do escorpião agressor e a classificação clínica do caso para instituição do tratamento adequado e oportuno. O reforço da área assistencial, quanto ao treinamento de médicos e enfermeiros no diagnóstico e tratamento de acidentados por escorpião, é essencial para que se diminua a letalidade do agravo, principalmente nos grupos mais vulneráveis, sendo estes os indivíduos residentes em zona rural e as crianças de até 9 anos de idade.